Napoleão Araújo
Um exemplo de amor...
Retornou à pátria espiritual no dia 28 de novembro último, o grande amigo de todos, NAPOLEÃO DE ARAUJO, o “Napo” (apelido que lhe deram seus familiares) - ou “o Coronel”, como era chamado pelos carentes que, diariamente, pela manhã bem cedinho, compareciam à porta da sua casa, para a primeira refeição, o “café da manhã” preparado pelo Napoleão, para que pudessem começar o dia com uma alimentação, recebendo, como “sobremesa”, palavras de carinho e de força, que brotavam do coração do “Coronel” - em nome do amor ao próximo - permitindo um colorido espiritual à substanciosa refeição; portanto, um homem bom, na verdadeira acepção do termo e de imensas virtudes, todas elas inclinadas para o bem.
Verdadeiramente “um exemplo de amor”!... Assim se apresenta Napoleão de Araujo, filho de Eduardo Schell Araujo e de Stella Araujo, nascido no dia 10 de março de 1935, na cidade de Ponta Grossa (terra de tantos brasileiros ilustres, berço de verdadeiros tarefeiros das lides espiritistas, infatigáveis obreiros do Senhor).
Como esposa, Elci Cunha de Araújo (a saudosa Dona Elci, tanto quanto ele, por todos, amada), igualmente na pátria espiritual, antecedendo-o em dez meses, apenas e, como filhos consangüíneos, conseguimos anotar: Eduardo, Eleine, Elciane, Edson, Elisiane, Emanuel, Everli, Eloise, Eveline e Endel e, mais os “filhos do coração” - como ele mesmo os tratava (adotados): Eva, Leonilda, Sônia, Carlos, Lourenço e Ana, mais vinte e oito netos... talvez mais alguns que, por um lapso de memória, ora não conseguimos lembrar (pois que a todos tivemos a ventura de conhecer e com a maioria conviver, em alguns momentos de muita alegria, quando retornávamos de alguma atividade ou tarefa - quando possível -, no cumprimento da sua luminosa Agenda).
Vamos registrar aqui algumas das suas costumeiras atividades, que julgamos bastante interessantes realizadas por ele, com “a simplicidade que Deus lhe deu”, qual sejam, a de juntar todos os seus filhos, colocá-los numa Kombi (bege) - naturalmente tendo ao seu lado a sua “fiel escudeira”, a esposa, Elci - dirigir-se às favelas para cortar o cabelo das crianças (e de alguns adultos, pois que, em muitas ocasiões se apresentavam, desejosos do “retoque”), ocasião em que a “família da Kombi” - o “barbeiro” e seus “aprendizes” - era recebida com enorme alegria, em clima de festa.
Era quando Elci aproveitava para conversar com as mulheres, orientando-as sobre assuntos de interesse da família, assim como higiene, espiritualidade, relacionamento etc., além de trabalhos manuais para ocupação de forma útil, do tempo disponível, no lar.
Napoleão, por sua vez, depois de “pelar” muitas cabeças, passava a atender os homens, com eles dialogando.
Mas o “passeio” - ou “treinamento” - dos filhos, não parava aí, pois, com freqüência os levava a Orfanatos, Asilos e Hospitais, para que - segundo o Eduardo (o seu filho mais velho) - “ entendêssemos que o amor, quando se divide, se multiplica, gerando bênçãos e felicidade para todos...”
Vamos permitir que o Eduardo fale mais um pouco sobre seus pais: “Eles queriam mostrar que o amor também poderia ser dividido com tudo que Deus criou. Ensinaram-nos a amar a natureza e a todos os seres vivos nos inúmeros piqueniques que fizemos na beira dos rios, cachoeiras e na mata virgem; nos ensinaram a amar e respeitar cada minúscula forma de vida pela expressão de Deus que elas representam.
Afastar uma formiga com carinho, colocar uma aranha sobre o papel e levar para o jardim, cultivar uma horta, plantar uma árvore, uma roseira, uma jabuticabeira - mesmo sabendo que só dali uns quinze ou vinte anos alguém iria saborear seus frutos.”
E suas lições de como dividir o amor para que ele se multiplicasse continuaram.
Cada pessoa que trabalhava em sua casa, recebia, na sua, a visita da família Araujo (o casal e as crianças), pois queriam conhecer a sua moradia e condições de vida... Vimo-los, à época em que trabalhamos juntos, na Casa da Criança Francisco de Assis (lá pelos idos de 1968 até 1976) - se não me falha a memória - em várias ocasiões, Napoleão e Elci - embora com uma família que mais parecia um batalhão - arregaçarem as mangas, ajudando os seus “braçais” (as pessoas que trabalhavam em sua casa), para que pudessem conseguir um terreninho, depois, erguerem as suas casinhas (nessas ocasiões o casal sempre se fazia acompanhar dos filhos para que cada vez mais entendessem o significado do “amor que se multiplica”).
O casal amigo ensinou a seus filhos a cuidar, com muito amor e carinho, de alguns parentes que, doentes, foram acolhidos em sua casa (entre os quais alguns deles podemos identificar, uma vez nos tornamos amigos deles, também: a vó Stella (mãe do Napoleão), o vô Eduardo (pai do Napoleão), o tio Antônio, o vô Maneco (pai da Elci) e o Carlinhos (seu sobrinho), todos dependentes de ajuda e incapazes de locomover-se pelos próprios meios; além de tantos outros que, durante alguma enfermidade recorreram ao “grande hospital de amor”, assim denominada a casa da família Napoleão, nessas ocasiões...
“Mas” - complementa Eduardo “uma lição de amor ainda maior e mais sublime, estava por vir: Por mais de dez anos foi deixando a sua vida e carreira profissional de lado para cuidar de sua amada, a nossa mãe, que pouco a pouco, recebia novas provações e limitações. Primeiro a diabetes, depois a síndrome de Jogre (sem saliva e secreções no corpo todo), depois o câncer, a amputação da perna, a perda de uma vista....
E, ela foi nos mostrando a cada nova limitação, como superá-la, encontrando uma outra ocupação útil do tempo que ainda pudesse ajudar alguém.
Ela partiu para o plano espiritual em janeiro último, tendo alguns dias antes proferido palestra num Centro Espírita e, com a agenda da sua Clínica de Psicologia, lotada”. Para aqueles que não sabem, Napoleão era Engenheiro e Professor da Universidade Federal do Paraná, quando o conhecemos, e a sua esposa, a nossa Elci, bem mais tarde, formou-se em Psicologia. (Na sua Clínica, “pagava” quem podia, uma vez sua atenção se voltava sempre e mais para o necessitado que recorria aos seus préstimos profissionais).
Será que se precisa dizer mais? Sim, pois nem sequer mencionamos algumas das suas inúmeras tarefas executadas, na condição de um grande e excepcional militante do Movimento Espírita!...
Inúmeras e variadas tarefas, encargos e missões foram, pela Causa Maior, atribuídas ao competente Napoleão... No Centro Espírita, na Federação Espírita do Paraná...
Em nível de Movimento Espírita Estadual... Até transferir-se para o plano espiritual, foi o assíduo Assessor de Informática da FEP (o site da FEP muito deve à sua invejável competência e dedicação), Conselheiro do Conselho Federativo Estadual (o segundo de seus Membros mais antigo, por longos anos, portanto). Estava vinculado à Sociedade de Estudos Espíritas “Francisco de Assis”.
Na Federação Espírita do Paraná, além de Conselheiro, Presidente de uma Região Federativa (1a. URE, com sede na Capital, antes do seu desdobramento, quando abrangia todas as regiões hoje sob a responsabilidade das URE's Metropolitanas, 1ª e 3a. Região); na Federação (Conselho Diretor e/ou Diretoria Executiva), exerceu o cargo de Secretário Geral, de Presidente e de Vice Presidente, em várias ocasiões, a partir de 1981 a 1986 e de 1989 a 2000 (portanto, durante dezesseis anos), além de cargos de Assessoria da Presidência.
Até os seus últimos dias no corpo físico, deu a sua grande contribuição à Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas. Registre-se, também o fato do seu grande desempenho em favor do Trabalho de Unificação do Movimento Espírita (Estadual e Nacional). Na atual Diretoria da Federação estava no cargo de Diretor do Departamento de Apoio às URE´s e de Expansão do Movimento Espírita.
Deixou sua “marca registrada” em quase todos os Departamentos e Serviços da Federação, entre as quais, na Livraria, no Jornal “Mundo Espírita”, nas Obras Sociais e Assistenciais mantidas pela Federação. Ressalte-se o respeito e o carinho com que tratava os funcionários da FEP (no que era correspondido).
Napoleão foi ainda (e por certo há de continuar sendo) entusiasmado discípulo de Lázaro Luis Zamenhof, portanto, Esperantista.
Na qualidade de médium, tanto na psicofonia, quanto na psicografia, intermediou muitas e elevadas mensagens, especialmente nos momentos em que se faziam necessárias, por instrutivas.
“(...) Não há vidas sucessivas mas somente Vida, perene, continuada, dirigida para o progresso. Há sim sucessivos períodos de estágio necessário no corpo para burilarmos os nossos espíritos”. (Guaracy Paraná Vieira - pequeno trecho de uma página, intitulada: “Que vida é essa?”, psicografada por Napoleão de Araujo, em 31/03/93, no Centro de Estudos Espíritas “Francisco de Assis”, em Curitiba,Pr.) Outra pequena anotação, do mesmo autor espiritual, através da psicografia do Napoleão, ditada na mesma Sociedade Espírita, datada de 20/10/93: “Que morte é essa”?
“(...) O corpo físico, pois, é um excelente veículo para que se efetue o progresso. Mas daí a termos supervalorizado o aspecto da separação do Espírito e do corpo não há maior validade. O homem esclarecido pela Doutrina dos Espíritos logo compreenderá este aspecto do fenômeno mais certo de ocorrer a cada ser encarnado”
(...). Em face do “espaço” que nos foi concedido, concluímos este sucinto “relato”, guardando a certeza de que o nosso grande Napoleão, “um exemplo de amor” - como bem é definido pelos seus filhos - por certo estará sendo lembrado por muitos dos seus amigos, admiradores e beneficiados, em vários momentos e ocasiões, dado os seus grandes dotes de cultura, de sabedoria, de bondade e de companheirismo. “Entre saber e fazer existe singular diferença; quase todos sabem, poucos fazem. - Aí reside, no campo do serviço cristão, a diferença entre a Cultura e a prática, entre Saber e fazer”. (Emmanuel)
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