José Luiz de Magalhães
Nascido no Rio de Janeiro a 6 de maio de 1875 e desencarnado na mesma cidade a 22 de novembro de 1949.
Era filho de José de Magalhães Silva Júnior e D. Luíza Rodrigues Soares.
Alma sensível, foi desde sua infância de caráter muito religioso.
Educado no Colégio de Caraça, de padres católicos, entregava-se à contemplação com elevação de propósitos, chegando mesmo a auxiliar ofícios religiosos inerentes à sua igreja.
Assim cresceu e constituiu família, casando-se no ano de 1898, com D. Julieta da Costa Magalhães, de cujo matrimônio nasceram-lhe sete filhos.
Ao deixar o Colégio, empregou-se no banco do Comércio, em 1892, ao qual serviu por 20 anos consecutivos, prestando ali, os mais relevantes serviços.
Ótimo funcionário, assíduo e prestativo, conseguiu galgar postos de confiança e constituir família, dando-lhe relativo conforto e educação primorosa aos seus filhos.
Espírito bem formado, não podia ver ninguém sofrer, mesmo antes de conhecer a Doutrina Espírita já era a personificação da bondade, no trabalho, no lar, na rua, na sociedade, solidário na dor e na alegria, com quantos privassem com ele.
Seu lema era aconselhar, ajudar e consolar, granjeando amigos, sem distinção de classe, cor ou nacionalidade; sua meta era servir, vendo em cada criatura sofredora, o companheiro que poderia ajudar a reerguer-se por todos meios e modos.
Um dia, sua filhinha Lídia, com poucos meses de idade adoeceu gravemente.
Ele empregou então todos os meios para salvá-la, procurando os recursos médicos que foram inúteis.
Triste e acabrunhado, já não sabia mais para o que apelar, foi quando ouviu falar do médium Ignácio Bittencourt.
Na esperança de ver sua filhinha restabelecida, procurou-o e dele recebeu palavras de consolação e conforto, além de esclarecimentos em torno dos desígnios de Deus e da esperança na vida espiritual, que a vida não terminaria no túmulo, pois continuaria na espiritualidade e se ele perdesse a sua filhinha na Terra, ganharia uma amiga no Céu.
O célebre seareiro falou-lhe sobre as belezas do Evangelho de Jesus e por fim o presenteou com um dos livros da Codificação Kardeciana, talvez o “Evangelho Segundo o Espiritismo”.
Isso aconteceu no ano de 1904, quando ele converteu-se ao Espiritismo, tornando-se desde então valoroso propagador da Doutrina e assíduo freqüentador da Federação Espírita Brasileira, cuja sede nessa época era situada na rua do Rosário e na presidência estava o dinâmico Leopoldo Cirne, um dos mais valorosos trabalhadores da Casa Máter do Espiritismo no Brasil.
Nesse exato momento surgia mais um pioneiro do Espiritismo em nossa Pátria.
Sua atuação inconfundível jamais sofreu solução de continuidade, sua alma cristã passou a desfrutar o Evangelho redivivo de Jesus à luz da Terceira Revelação; na sua humildade, sem querer jamais aparecer, entregava-se ao trabalho que se desenvolvia naquela Casa, dando tudo de si com muito amor, ao lado dos companheiros de lides doutrinárias, com base na fé raciocinada e reconhecendo que o primeiro passo para libertar-se espiritualmente seria sempre o trabalho.
Poeta nato, José Luiz de Magalhães, passou a colaborar desde então no “Reformador”, órgão de Federação Espírita Brasileira, com produção poética de sua lavra, dando asas ao seu estro, canta como ave canora as verdades evangélicas na revelação da revelações, o consolador prometido por Jesus: o Espiritismo.
Na sua lira imortal, presta efusiva homenagem a Jesus, a Kardec e à Doutrina dos Espíritos.
Dedicando muitos de seus versos a pioneiros ilustres, como Bittencourt Sampaio, Caíbar Schutel, Casimiro Cunha e ao seu querido mestre Ignácio Bittencourt, responsável pela sua conversão ao Espiritismo e por que nutria imorredoura gratidão.
Em 1906 foi eleito Diretor da Assistência aos Necessitados da Federação Espírita Brasileira, desenvolvendo corajoso programa de realizações, mantendo a infatigável visitação aos enfermos e necessitados de todos os matizes, num trabalho verdadeiramente apostolar, bem à altura de seus sentimentos humanitários.
Nesse setor de grande relevância, começou o seu trabalho profícuo na Casa de Ismael.
Em 1907, era eleito 2.º Secretário, cargo que exerceu até 1912, quando foi eleito, por unanimidade para o cargo de 1.º Secretário, sempre na presidência de Leopoldo Cirne, deixando ali traços indeléveis de sua passagem, notadamente nos trabalhos pertinentes à construção da nova sede na antiga rua do Sacramento, hoje Avenida Passos n.º 30.
Às 14 horas do dia 10 de dezembro de 1911, com o comparecimento de figuras de todas as camadas sociais, entre eles o grande homem público que foi Quintino Bocaiúva proclamava, diante de mais de mil pessoas, a inauguração oficial da nova sede.
Dentre os vários oradores, fez também uso da palavra o querido companheiro de todas as horas: José Luiz de Magalhães.
Ao lado do Ignácio Bittencourt, Ignácio Santos, Ernestina Ferreira dos Santos e um grupo de abnegados companheiros, ajudou na fundação do Abrigo “Teresa de Jesus”, dando também a sua parcela de serviço àquela Casa que honra a assistência à criança necessitada, modelo de trabalho e dignidade até o presente momento.
De sua lavra é o livro de poesias intitulado Contemplações, o mais belo e puro sentimento de sua alma sensível, no dizer de Indalício Mendes, um inspirado e o inspirado é quase sempre um médium, a mediunidade atributo de todos os poetas, quando suas almas viajam por mundos espirituais em busca de temas que chegam ao clímax da sublimação .
Produziu ainda ótimos versos, com Prelúdio, Glórias, Quatro Flores, A Pastora e outros. Versos
Antigos é um livro dedicado à sua dedicada esposa.
Traduziu também o Fim de Satã, de Victor Hugo, tradução que ratifica a sua cultura, o sentimento poético e a sua sensibilidade.
Foi um espírita dedicado ao trabalho, durante toda sua vida, sempre aureolado pela simplicidade e pala modéstia, homem culto, porém, de certo modo tímido, deu sua vida à causa e à família, até a sua libertação do corpo carma, ocorrida no dia 22 de novembro de 1948.
Nos seus escritos foi encontrado, posteriormente, um bilhete com os dizeres: “À minha família: Desejo ser enterrado com a roupa que estiver vestido ou, se estiver de cama, amortalhado num lençol; sem anúncios, só avisando aos mais íntimos para o enterro, que deverá ser de terceira classe ou mais modesto ainda (ou da capela do cemitério), em jazigo provisório ou mesmo em cova rasa, fora do túmulo da família, sendo entregue o local ao cemitério findo o prazo, sem nenhuma exumação de ossos pela família.
Dispenso apresentações ou remessas de coroas fúnebres e peço, aos que quiserem, uma oração íntima por mim e pelos que sofrem. 2-2-1947 - ass. José Luiz Magalhães.”
LUCENA, Antônio de Souza e GODOY, Paulo Alves. Personagens do Espiritismo. Edições FEESP, 1982. 1ª edição, SP.
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