João Pinto de Souza

Nascido na cidade de Palmares(Pernambuco), no dia 8 de fevereiro de 1891, e desencarnado no dia 31 de julho de 1943, no Hospital Central do Exército, do Rio de Janeiro

João Pinto de Souza foi um dos pioneiros de programas espíritas radiofônicos, quando numa gloriosa noite de Quarta-feira às 21:00 horas, formada pela mais intensa emoção, anunciava ao microfone da PRE-6, “Rádio Sociedade Fluminense” – a Hora Espiritualista – o primeiro programa prolongado e permanente de Espiritismo pelo rádio. O pioneiro mesmo foi Caíbar Schutel um ano antes, em 1936, quando pela “Rádio Cultura de Araraquara ”PRD-4, irradiava palestras, que mais tarde reuniu num livro intitulado: “Palestras Radiofônicas”, com 206 páginas.

Antes dessas datas históricas, raras vezes, ouviram-se um ou outro confrade, a irradiação de uma comemoração solene, mais um fato social do que doutrinário, propriamente dito. A imprensa espírita de 1937 diz que João Pinto de Souza foi o pioneiro desses programas, no Brasil e no Mundo, porém, vamos fazer justiça ao grande Caíbar Schutel, que um ano antes irradiava semanalmente conferências pelo rádio. No programa inaugural na “Rádio Ipanema”, quando se transferiu de Niterói para o Rio de Janeiro compareceram eminentes figuras do Espiritismo, como Manoel Quintão, Dr. Guillon Ribeiro, Professor Leopoldo Machado, Dr. Leôncio Corrêa, Comandante João Torres, Carlos Imbassahy e muitos outros, conforme fotografia histórica pertencente ao Museu Espírita do Estado de Guanabara. A Hora Espiritualista contou com integral apoio da Liga Espirita do Brasil, de cujo conselho João Pinto de Souza fazia parte. A inauguração do Programa na “Rádio Ipanema” causou tanta repercussão, que ao ato compareceram representantes de inúmeras Instituições Espíritas do Distrito Federal e do Estado do Rio de Janeiro, inclusive a Federação Espirita Brasileira. Graças ao dinamismo desse denodado companheiro, contamos hoje com a Fundação Cristã Espírita Cultural “Paulo de Tarso”, mantenedora da Rádio Rio de Janeiro, a Emissora dos Espíritas, dirigida pelo seu sucessor Geraldo de Aquino, que mantém o Programa até hoje com o nome de “Hora Espírita João Pinto de Souza”.

João Pinto de Souza era filho de família humilde, pobres de bens materiais, mas ricos de virtudes evangélicas na intimidade do lar. A situação financeira de seus pais não lhe permitiram receber instruções superior.

Fez o curso primário e trabalhou em algumas casas comerciais até atingir os 18 anos, quando se alistou no Exército como voluntário, sendo transferido para o 52.º Batalhão de Caçadores no Rio de Janeiro, onde fez os cursos de cabo e sargento. Posteriormente serviu na Fortaleza de São João e por merecimento foi lotado no Estado Maior do Exército, como sargento-escrevente. Estudando à noite, tentou por algumas vezes ingressar na Escola Militar, o que infelizmente não conseguiu. Serviu em alguns Estados da Federação, inclusive no Forte de Óbidos, no Pará, onde se reformou em 1931, na graduação de 1.º Sargento, deixando bela folha de serviços. No Exército, foi um militar amante da disciplina, querido e respeitado por subordinados, colegas e superiores.

Não se sabe exatamente quando João Pinto de Souza aceitou a Doutrina. Na comunidade espírita era muito laborioso; de temperamento impulsivo e algumas vezes até explosivo, chegou a desagradar alguns confrades, porque em matéria de Espiritismo não admitia meio termo, era dinâmico, trabalhador e realizador, não compreendendo como certos confrades pudessem aceitar cargos e fugir dos encargos. Não ficava calado diante de coisas que lhe parecessem em desacordo com o espírito da Doutrina, extremamente sincero, desagradava aos acomodados, mas apesar de tudo, era fraterno e amigo e os companheiros compreendiam e toleravam os seus impulsos, sendo querido e admirado pelo seu constante e fecundo labor a bem da propaganda espírita e doutrinária.

Dotado de diversas faculdades mediúnicas, inclusive de efeitos físicos, serviu de instrumento para alguns pesquisadores nesse terreno. Essas sessões se realizavam na sua própria residência e eram dirigidas e controladas pelo saudoso confrade Sebastião Caramuru, com o máximo de cuidado para que não houvesse a mínima possibilidade de fraudes. Todos os assistentes e o próprio médium eram amarrados e lacrados, para que no final das sessões se pudesse constatar que ninguém havia se levantado de seus lugares. Antes do início de cada sessão, fechava-se a porta que, além da fechadura, tinha trancas no seu interior e também ficava lacrada, com a assinatura de cada um dos presentes. Davam-se várias batidas no ambiente, investigando por todos os presentes, para que nem de leve pudesse duvidar da realidade dos fenômenos produzidos, na presença de respeitáveis personalidades. Nessas sessões registraram-se os fenômenos de voz direta, através de uma corneta acústica, escrita direta em línguas estrangeiras em papel previamente rubricado por todos os presentes e colocados dentro de uma caixa de madeira fechada, embrulhada e lacrada em vários pontos. Um artigo publicado na “Revista Espírita do Brasil”, de autoria do confrade Daniel Cristóvão, em setembro de 1943, afirma o seguinte: “Dos fenômenos de escrita direta, através da mediunidade de João Pinto de Souza, sobreleva uma mensagem escrita em francês, que jamais conseguimos esquecer, a qual foi redigida em papel rubricado por todos e colocada dentro de uma caixa cuidadosamente lacrada, cujo texto dizia assim: Ao meu Castelo, neste momento, nada mais quero senão revê-lo. Que seria a vida sem a virtude”. Mensagem assinada por Babet, destinada ao confrade Coronel José de Castelo Branco. E nesse artigo Daniel Cristóvão descreve com riqueza de detalhes os vários fenômenos produzidos naquela sessão.

O nome de João Pinto de Souza aparece nos Anais do Congresso Espírita, realizado no Rio de Janeiro em 1925, o qual deu origem à Liga Espírita do Brasil, fundada em 31 de março de 1926, por um pugilo de valorosos defensores da pureza doutrinária, dentro do pensamento de Allan Kardec, revelado pelo Espírito da Verdade. Homens de incontestável valor moral e intelectual assinaram a ata de fundação da Liga, como o Desembargador Gustavo Farnese, Ângelo Torteroli, Dr. Xavier de Araújo, o escritor Coelho Neto e muitos outros expoentes da história do Espiritismo no Brasil. A Liga Espírita do Brasil tomou caráter federativo nacional, abrigando em seu seio instituições de vários Estados do Brasil, só abrindo mão dessa prerrogativa, quando da criação do Conselho Federativo Nacional, instituído pelo Pacto Áureo, em 5 de outubro de 1949, ao qual aderiu, passando a ser o Órgão Federativo no antigo Distrito Federal. Essa casa tem sido um posto avançado, um celeiro de defensores da Doutrina Espírita em toda sua pureza, à luz da Terceira Revelação. A Egrégia Entidade permanece na mesma unidade de pensamento, defendendo os mesmos ideais de seus antepassados em cujo seio figurou o nome ilustre de João Pinto de Souza.

Por ocasião do I Congresso Brasileiro de Jornalismo Espíritas, em 1939, quando se inaugurava uma “Exposição de Revistas e Jornais Espíritas”, ele foi homenageado pela Diretoria do Congresso, por ser o decano dos jornalistas espíritas presentes ao ato. No campo do jornalismo desenvolveu trabalhos notáveis, redigindo artigos para a imprensa espírita de todo o País. Era associado da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), onde atuou brilhantemente. Escreveu uma coluna espírita no jornal “A Pátria” e foi assíduo colaborador de “A Vanguarda”, jornais de grande tiragem naquela ocasião, ambos já extintos. Tinha muita facilidade para escrever e falar. Na tribuna espírita era vibrante a ponto de empolgar a assistência, sendo um dos conferencistas mais solicitados de sua época.

Tomou parte ativa em diversos movimentos espíritas, promoveu caravanas ao interior, visitas de confraternização e conferências públicas. Fundou e presidiu a União dos Centros Espíritas dos Subúrbios da Leopoldina, foi Presidente do Centro Espírita “Fé e Caridade”, tomou parte em inúmeras diretorias e assinou várias atas de fundações de instituições espíritas. Organizou grupos de Estudos nas Unidades Militares onde serviu, conforme publicou “Vanguarda” em suas reminiscências.



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