Antônio Barbosa da Paixão
Nascido a 09 de março de 1876, em Vila Canudos, no Estado de Alagoas, e desencarnado a 07 de outubro de 1957, aos 81 anos de idade.
Aos vinte anos de idade, viajou para o Rio de Janeiro, disposto a ingressar na então Brigada Militar do Distrito Federal, hoje Polícia Militar do Rio de Janeiro, o que aconteceu um ano depois, no dia 12 de dezembro de 1897. À custa de muito esforço e boa vontade, seis anos mais tarde, em 1903, terminava o curso e era promovido ao posto de Alferes, para as armas de Infantaria e Cavalaria.
Estudioso, inteligente e apaixonado pela vida militar, em apenas 11 anos, ele percorreu os vários postos da Brigada Militar naquela época, tendo sido promovido a Tenente-Coronel aos 38 anos de idade, e com isto se tornou um dos mais jovens oficiais superiores daquela corporação. Nessa oportunidade foi designado para exercer o Comando do Regimento de Cavalaria, localizado no bairro do Estácio, comandando esta Unidade por um período de dezoito anos consecutivos.
O Coronel Antônio Barbosa da Paixão foi um dos mais conceituados oficiais da Polícia. Em 1930, quando se deu a deposição do Presidente Washington Luiz, estava ele no comando do Regimento de Cavalaria, no qual viveu horas angustiantes para manter-se fiel à legalidade governamental, sob o comando do General Carlos Arlindo. Neste episódio cumpriu o seu dever com honradez e conduta cristã até o último momento, mantendo a ordem legal e, por fim, aceitou a nova situação como fato consumado, apresentando suas credenciais ao novo Comandante e Chefe, que resolveu mantê-lo no posto, dado as melhores informações recebidas com referência à sua conduta exemplar.
Em 1933, o Coronel Antônio Barbosa da Paixão requereu a sua reforma, depois de 36 anos de bons serviços prestados àquela briosa corporação. Nos seus assentamentos constavam mais de uma centena de elogios e uma coleção considerável de condecorações. Deixou o serviço ativo, merecendo o respeito e a consideração de todos aqueles que serviram sobre o seu comando. A imprensa da época referiu-se a ele com as notas mais elogiosas possíveis, dizendo da grande e conscienciosa atuação do velho soldado na manutenção da ordem e do respeito mútuo entre o povo e o Governo, com equilíbrio e espírito patriótico. Um matutino carioca terminou uma de suas notas dizendo: “É bem merecido o prêmio que nesta data solene, recebe o bravo Comandante da Polícia Militar do Rio de Janeiro, depois da certeza e da consciência do dever bem cumprido, sem ressentimentos, mágoas, queixas ou críticas.”
O Comandante Barbosa da Paixão, já era espírita desde muito jovem, embora não haja registro relativo à data e ao motivo de sua conversão ao Espiritismo. Consta de uma publicação que “Barbosa da Paixão” mantinha sob a sua direção um Grupo de Estudos Espíritas no Regimento de Cavalaria e outro Grupo Familiar, para o estudo do Evangelho e prática mediúnica, na sua própria residência. A 1º de setembro de 1917, fundou o Grupo Espírita “Fernandes Pinheiro”, depois de uma comunicação espiritual recebida pela médium Lucila Miranda da Cruz, quando se fazia preces em memória de sua esposa desencarnada recentemente, D. Miquilina da Paixão. Nesta sessão, a médium transmitiu belíssima mensagem de encorajamento ao Comandante Barbosa da Paixão, exortando-o para que fundasse um Grupo Espírita, destinado ao estudo do Espiritismo e à prática da caridade. Solicitando a identidade do Espírito comunicante, este último respondeu que na sua derradeira encarnação na Terra chamara-se Cônego Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro, desencarnado a 15 de janeiro de 1876. Homenageando esse Espírito o Grupo Espírita que se fundara naquela mesma noite, tomou o seu nome. Posteriormente o Coronel Barbosa da Paixão desejou saber fatos da vida desse Espírito e nisto foi atendido por outra entidade comunicante, a qual revelou detalhes importantes da vida do ex-sacerdote dizendo mais que o Coronel possuía em sua estante um livro de História de sua autoria, o que foi constatado posteriormente.
O velho batalhador, embora bastante idoso, participava da liderança espírita do Distrito Federal. Naquela época, além do “Fernandes Pinheiro”, fazia parte da Liga Espírita do Brasil, da qual foi um dos pioneiros; da Cruzada dos Militares Espíritas, da qual também foi um de seus fundadores, ao lado dos Generais Frutuoso Mendes e Manoel Araripe de Farias; do Almirante Carlos Olímpio Borges de Farias e de tantos outros militares e civis idealistas, além de participar de muitas outras instituições espíritas do antigo Distrito Federal. Esteve à frente de todo movimento espírita realizado nas décadas de 1920/1950, ocupando a tribuna, falando pelo rádio, escrevendo pela imprensa e publicando várias obras doutrinárias de sua autoria. Viajou por todo o interior do Estado do Rio de Janeiro e Estados vizinhos, a serviço do Espiritismo. Privava a intimidade da liderança espírita da época, contribuindo da melhor forma para que a Doutrina crescesse e multiplicasse em todos os sentidos.
Deolindo Amorim, numa crônica para “O Cruzado”, órgão doutrinário da Cruzada dos Militares Espíritas, dele escreveu o seguinte: “O Coronel Antônio Barbosa da Paixão foi um dos primeiros doutrinadores com quem conversei e de quem, logo depois, me tornei amigo. Tinha por ele uma admiração muito sincera. O que sempre chamava a atenção em suas atitudes, fosse onde fosse, eram justamente dois traços bem acentuados: a elegância e a humildade. Paixão era um homem de educação muito polida, vestia-se corretamente, mantinha uma linha de moderação impecável e era muito humilde.”
Estudou música e, na qualidade de instrumentista, chegou a ser incluído na Banda da Brigada Militar, quando ainda praça, porém, seu objetivo era ser oficial, o que alcançou em pleno êxito. Deixou, no entanto, várias composições de sua autoria, marchas e hinos para a Banda dessa Corporação.
O abnegado seareiro espírita só deixou o movimento doutrinário e muito especialmente a Liga Espírita “Fernandes Pinheiro” (denominação que passou a tomar em 8 de dezembro de 1937, na reforma de seus estatutos), por incapacidade física. Deixou aos pósteros admiráveis exemplos de humildade e amor à Doutrina Espírita, como ponto de partida para um mundo melhor.
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