A Atualidade da Proposta Espírita
Amar; Instruir; Agir


Mario Paulo V. Rodrigues
*

Espíritas amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo(1)

Esta elevada proposta trazida até nós pelo Espírito da Verdade através de Allan Kardec na codificação e infelizmente pouco comentada e praticada nas casas espíritas (principalmente o amai-vos)  é de uma atualidade irrefutável.

Mas, na sociedade atual onde imperam a inversão de valores, a busca do prazer fácil e ilusório, a falta de ética, desequilíbrios emocionais de toda a ordem, tais como depressão, síndrome de pânico, entre outros, fugas psicológicas das mais variadas (álcool, drogas, sexualidade transtornada, etc), enfim, numa sociedade onde vemos sempre e cada vez mais uma busca desenfreada pelo TER e não pelo SER, será que somente o amor e a instrução serão suficientes para mudá-la?

Com certeza não, pois falta a AÇÃO.

Os três unidos (amor, instrução e ação) formam uma base sólida onde a prática e o estudo espírita deve sempre se apoiar.

Vejamos:
O Amor: é comum irmos aos Centros Espíritas e ouvirmos preleções muito bonitas, de elevada moral falando constantemente em amar. Vamos amar de lá; vamos amar de cá e por aí vai. Muito “bonitinho” mas pouco prático.

De nada adianta falarmos horas e horas sobre amar se não agirmos ou convidarmos as pessoas a agirem. Mas de que forma?

Exercitando a CARIDADE, que é o amor em ação (2).
E a instrução onde fica?

Ora, para podermos amar, perdoar e compreender o próximo temos que ter as mesmas atitudes para conosco e isso só se dará através do autoconhecimento (3) a da busca de um ideal de vida (4). Questões estas colocadas de uma forma extremamente prática e simples, apesar da profundidade, pelos espíritos na codificação.

A Instrução: quantos de nós já assistiu palestras onde o expositor discorre sobre temas espíritas com tamanho conhecimento e autoridade do assunto que parece ter até uma “procuração de Kardec” para falar em seu nome. Mas coitado do freqüentador, que por vezes está tendo um primeiro contato com a doutrina, se ousar interrompê-lo com alguma dúvida (sempre comum e necessária para uma troca de idéias saudável) ou fizer alguma colocação menos feliz. Será fulminado por um olhar irônico ou por um solene: eu discordo!

Grandes expositores que se assemelham a bibliotecas ambulantes, mas desprovidos de qualquer sentimento.Quando ligam a metralhadora giratória da crítica então é melhor sair de perto, pois somente eles entendem e sabem sobre tudo e qualquer assunto ligado ao Espiritismo.

É nessa situação que há a necessidade do amor. O amor-respeito, o amor-compreensão. Temos que ter liberdade para externar as nossas dúvidas sem receio. A Doutrina Espírita é esclarecedora não ameaçadora. Cabe, portanto ao expositor responder a toda e qualquer dúvida (se souber) com a devida compreensão e acolher com todo o respeito os iniciantes que em muitas das vezes estão muito interessados em conhecer a Doutrina, e se não agirmos com a devida prudência estaremos sufocando uma semente com grande potencial de germinar.

Paulo em sua tão conhecida carta aos Coríntios (Cap.13, vers. 1 a 13) já escrevia com grande sabedoria: “Se eu falar as línguas dos homens e dos anjos, e não tiver amor, sou como metal que soa, ou como o sino que tine.”
Que este ensinamento possa sempre ser o fio condutor de nossas palavras.

A ação: entra quando passamos da teoria para a prática, pois de nada adianta ficarmos repetindo palavras à semelhança de um alto-falante se não agirmos. Muitos que não conhecem a doutrina acharão os ensinamentos espíritas só cabem a quem acredita na existência de espíritos ou algo semelhante. Mas podemos derrubar esse frágil argumento apenas citando um pequeno trecho da questão nº 918. do L.E.

“Verdadeiramente, homem de bem é o que pratica a lei de justiça, amor e caridade, na sua maior pureza. Se interrogar a própria consciência sobre os atos que praticou, perguntará se não transgrediu essa lei, se não fez o mal, se fez todo o bem que podia, se ninguém tem motivos para dele se queixar, enfim se fez aos outros o que desejara que lhe fizessem. Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem contar com qualquer retribuição, e sacrifica seus interesses à justiça.

É bondoso, humanitário e benevolente para com todos, porque vê irmãos em todos os homens, sem distinção de raças, nem de crenças....”

Essa citação é exclusiva para espíritas ou tem caráter universal?

Acredito que não aja necessidade de resposta.

Isso é Espiritismo: uma doutrina que tem como objetivo principal promover no ser humano as reformas morais e intelectuais necessárias para que ele, modificado interiormente atue com agente de transformação da sociedade. É um convite incessante para que transformemos a espera do amanhã nos resultados de hoje.

“Se o Espiritismo, conforme foi anunciado, tem que determinar a transformação da Humanidade, claro é que esse efeito ele só poderá produzir melhorando as massas, o que se verificará gradualmente, pouco a pouco, em conseqüência do aperfeiçoamento dos indivíduos. Que importa crer na existência dos Espíritos, se essa crença não faz que aquele que a tem se torne melhor, mais benigno e indulgente para com os seus semelhantes, mais humilde e paciente na adversidade?...”(5)

Bibliografia
1 – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 6, item 5
2 - O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 15, item 10
3 – O Livro dos Espíritos – Questão 919
4 – O Livro dos Espíritos  – Questão 918
4 - O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 17 item 3
5 – O Livro dos Médiuns – Item 350

*Mario Paulo Ventura Rodrigues é estudante da Doutrina Espírita, tendo freqüentado diversas casas espíritas na cidade de São Paulo. É colaborador do site www.espiritismoemdebate.com.br

Direitos Solidários - Permitida a reprodução desde que citada a fonte - Espiritismo em Debate®

<<< Voltar para a página artigos