Critique, mas Faça
Humberto Mendes
Um dia, faz muito tempo, lá na Bahia, eu estava na casa de meu padrinho, um velhinho de 85 anos, politico da velha escola de Getúlio, Zé Américo, Benedito Valadares e outras velhas raposas. Era um sábio, anti clerical extremado, vivia brigando com os padres da paróquia onde minha madrinha e tias eram frequentadoras assíduas. Mesmo com todo o radicalismo de suas posições, ele era um grande humanista.
Essa história aconteceu num momento em que juntamente com uns primos e amigos, “salvávamos” o Brasil e o mundo, baixando o pau em tudo e em todos: igreja, polícia, governo federal, estadual, municipal, banqueiros, vereadores, corretores, prostitutas, marajás, beduinos e faraós, todos, sem uma única excessão, para nós, eram farinha do mesmo saco. Ninguem passava incólume pela nossa crítica
E meu velho padrinho perto, cofiando o bigode e ouvindo toda aquele conversa, até que num determinado momento eu resolvi tentar colher a opinião do velhinho e perguntei: O que o Sr. acha disso tudo meu padrinho?
O velho olhou por cima das lentes, com aquele jeito matreiro de velha raposa, fez uma avaliação de um por um dos circunstantes e pontificou:“vejo que todos vocês têm soluções para os problemas do Brasil e do mundo, pois são jovens, sábios, conhecem tudo e certamente fariam um grande trabalho pela humanidade. Só vou lhes fazer algumas perguntas: algum de vocês ja se candidatou a um cargo público, como vereador, por exemplo? Quem daí ja foi à uma igreja e se colocou à disposição do padre ou do pastor para trabalhar como voluntário? Quem ja foi a uma delegacia para ver de perto o trabalho da polícia? Alguem já pensou em se oferecer para alfabetizar e orientar aquelas mulheres?
Pensem nisso meninos, pensem nisso.Agora, se vocês me dão licença, boa noite que eu vou dormir. E foi dormir o sono dos justos, dos humanistas, deixando conosco uma grande lição.
Será que aprendemos?
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