Mediunidade: estude antes, pratique depois

Danilo Pastorelli

Caro leitor, convido-o a refletir comigo.

Quando pretendemos tirar a licença de motorista qual é a primeira coisa que fazemos? Estudar a legislação, você dirá. Porque ninguém vai direto à aula de direção, já que é evidente que quem não sabe as regras e leis de trânsito não está apto a pegar no volante e sair por aí guiando, mesmo com a presença de um instrutor.

Quando é que um estudante de medicina executa a sua primeira intervenção cirúrgica? Depois de alguns anos de estudo, você dirá novamente. Seria ilógico imaginar um primeiroanista aspirante a doutor com o bisturi na mão, na sala de operações, tendo na maca um paciente em estado grave, sem antes ter passado por aulas de anatomia, assepsia, infectologia e outras disciplinas.

E é assim que se processa em todos os níveis do conhecimento humano. A teoria deve vir sempre antes da prática. Até com Jesus foi assim. Jamais nos cobrou nada, antes de nos ensinar.

Espera-se que o mesmo ocorra quando tratamos do tema da mediunidade. Para que possamos exercer num nível “ótimo” as nossas funções no grupo mediúnico se faz necessário um estudo cuidadoso e contínuo da matéria.

Saber o que é o perispírito e a maneira como ele está diretamente ligado ao fenômeno mediúnico, o mecanismo dos fluidos, a necessidade da análise das comunicações, a diferença entre animismo e mistificação, a importância da freqüência, como dialogar com os espíritos, qual a função da concentração e como alcançá-la, enfim, são todos assuntos que demandam muita atenção daqueles que se propõem a participar de reuniões mediúnicas.

Fruto de uma forte tradição católica, não conseguimos criar o hábito do estudo, do preparo técnico para exercer funções dentro do ambiente religioso. O comum era sempre fazer o que o padre dizia, o que a Igreja pregava, sem questionamentos ou especialização de função. Isso era tarefa dos clérigos, da gente ligada diretamente à Igreja. A grande massa da população apenas seguia e obedecia aos “chefões”.

Com o Espiritismo a coisa muda. Não há hierarquia de funções e todos exercermos um papel ativo nas reuniões. Somos constantemente chamados ao exercício do estudo, já que só através dele é que conseguimos alcançar a bênção do esclarecimento, as luzes da sabedoria, a liberdade de consciência e os elementos necessários ao nosso progresso moral.

E é com o estudo prévio da doutrina, mas também com a continuidade desse, que evitamos males como a obsessão coletiva do grupo mediúnico, que sabemos discernir o bom e o mau conteúdo das comunicações, que conseguimos atender aos esclarecimentos que os espíritos sofredores vêm buscar, que colaboramos com a espiritualidade maior na tarefa da evangelização dos desencarnados.
Além disso, é exatamente através do estudo sério da doutrina que nos convencemos da sua grandeza e da sua origem espiritual altamente elevada. Kardec dizia que o melhor método de ensino espírita é o que se dirige à razão e não aos olhos.

A isso somemos o fato de que é uma recomendação recorrente do mestre lionês em toda a obra básica. Reflitamos sobre as palavras do próprio Kardec no item VIII da introdução de O Livro dos Espíritos:
“Se quereis respostas sérias, sede sérios vós mesmos, em toda a extensão do termo e mantende-vos nas condições necessárias: somente então obtereis grandes coisas. Sede, além disso, laboriosos e perseverantes em vossos estudos, para que os Espíritos superiores não vos abandonem como faz um professor com os alunos negligente

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