Centro Espírita sem estudo não é Centro Espírita

Danilo Pastorelli

Semana passada a comunidade espírita foi pega de surpresa pela notícia da realização de uma cerimônia de casamento em centro espírita na cidade de Salvador. O Tribunal de Justiça da Bahia chegou a autorizar o registro civil da união ocorrida, fato ingenuamente comemorado por alguns confrades que acreditavam ser o anúncio do fim do monopólio católico sobre a união entre cônjuges. É de se lamentar! Julgo o fato como a triste constatação da falta de estudo da nossa doutrina.

Se nesse ritmo continuar o andar da carruagem, não me admiraria em breve saber de batismos, crismas, confissões e penitências administradas no seio de casas espíritas; e num futuro não muito distante, quem sabe até o surgimento de uma versão “espiritesca” do Tribunal do Santo Ofício para punir quem não compartilhasse dos novos rumos do movimento.

Isso é um grave sinal de retrocesso. A Doutrina Espírita diferencia-se das demais correntes filosóficas justamente por abandonar dogmas, excluir aparatos religiosos, pela ausência de sacramentos e, sobretudo, pela proeminência da simplicidade. Nós não temos sacerdotes, jamais houve (ou pelo menos não deveria haver) uma hierarquia de poderes no movimento, não há imposição de costumes ou posturas exteriores. O Espiritismo nunca utilizou de ritualismos para se consolidar seja como religião, filosofia ou ciência.

E é justamente aí que repousa uma das muitas riquezas ofertadas pela doutrina dos Espíritos: o esclarecimento. Esclarecer em Espiritismo significa lançar luz, tirar o véu que obscurece a consciência do ser. A Doutrina desvendou os mistérios que há muito incomodavam a humanidade: desde a explicação dos fenômenos chamados paranormais, passando pela confirmação da vida pós-morte e pelas provas da comunicabilidade das almas com o mundo terreno. A partir de então, o medo dos “fantasmas” havia morrido com eles.

No entanto, caro leitor, não tenhamos dúvidas de que a maior contribuição do Espiritismo está mesmo no campo moral. E é nas máximas do Cristo interpretadas e explicadas pelos Espíritos - fundamentalmente presentes em O Evangelho Segundo o Espiritismo - que encontramos seu ponto de culminância. Afinal de contas a obra toda é um convite à evolução, ao progresso moral do homem. Lá entendemos a necessidade do aprimoramento intelecto-moral, percebemos o prejuízo que nos trazem nossas más tendências, recebemos estímulo para melhor enfrentar as dificuldades do dia-a-dia e somos convocados a desenvolver nosso relacionamento pessoal de forma sadia e desinteressada. É aí que sentimos a satisfação de conhecer ao menos parte da filosofia Espírita.

Mas é evidente também que nada disso seria possível sem o estudo sistemático e contínuo da Doutrina. Nenhum de nós está isento dessa tarefa: a de conhecer e desvendar as maravilhas do ensino que vem dos bons espíritos. Só mesmo através da dedicação à leitura, à crítica, ao estudo é que vamos aos poucos nos conscientizando do nosso papel no orbe terrestre. É só com o estudo - seja em grupo, seja individualmente - que a doutrina desempenha sua função prima, qual seja, a de educar integralmente o Espírito, levando em consideração sua bagagem espiritual, suas aspirações e potencial.
Portanto, casa espírita sem reunião de estudos não é casa espírita, pois não permite que a doutrina se manifeste na sua essência. Impede dessa forma que as luzes trazidas pelos Espíritos da codificação iluminem àqueles que buscam a libertação e a conscientização.

Amigos, estudemos juntos com afinco. É de graça e o lucro é garantido!

Direitos Solidários - Permitida a reprodução desde que citada a fonte - Espiritismo em Debate®


<<< Voltar para a página artigos